O Chefe de Estado, aplaudido no final da sua intervenção, garantiu aos representantes da TICAD que o Governo angolano está a reforçar medidas para combater o branqueamento de capitais e a corrupção, um dos maiores desafios da sociedade
Santos Vilola | Yokohama
O Chefe de Estado, João Lourenço, afirmou, ontem, em Yokohama (Japão), que as medidas que o Estado angolano está a tomar para combater a corrupção são “apropriadas”, para que o país seja governado com base na lei.
João Lourenço, que falava para uma plateia de Chefes de Estado e de Governo de África e do Japão no painel “Acelerar a transformação económica e melhorar o ambiente de negócios através da inovação e envolvimento do sector privado”, que se seguiu à abertura da 7ª Conferência Internacional de Tóquio sobre o Desenvolvimento de África (TICAD), referiu que “a corrupção é um dos maiores desafios com que a sociedade angolana se debate.”
Na intervenção de três minutos, concedidos a cada um dos participantes, o Presidente da República indicou que a corrupção compromete os princípios básicos de transparência e a promoção por mérito e competência, devido aos efeitos negativos que causa.
O Chefe de Estado, aplaudido por alguns segundos no final da sua intervenção, garantiu aos representantes da TICAD que o Governo angolano está a reforçar as medidas para combater o branqueamento de capitais.
“Queremos criar empregos em Angola, atrair mais investimento estrangeiro. Não queremos concentrar os investimentos na capital, mas alargar para o interior do país e aumentar a produção interna, para a exportação”
João Lourenço, estreante neste encontro multilateral e o primeiro Presidente angolano a participar na TICAD, falou pouco depois das intervenções dos Presidentes Paul Kagame, do Rwanda, e Yoweri Museveni, do Uganda, que estiveram em Luanda semanas antes, para assinar um histórico acordo para o fim da crise política entre os dois países.
O Presidente João Lourenço indicou que o Governo angolano está a recuperar bens públicos ilegalmente transferidos para o estrangeiro por gestores a quem tinham sido confiados a sua administração.
Ambiente de negócios
No painel, moderado pelo Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, o Chefe de Estado angolano garantiu que o país está a criar um ambiente de negócios “amigável” para atrair investidores estrangeiros.
O Presidente da República disse que, com ajuda do Banco Mundial, o Governo apoia a instalação de pequenas e médias empresas.
O Chefe de Estado indicou que, até o próximo ano, devem ser privatizadas empresas em vários sectores da economia.
“Queremos criar empregos em Angola, atrair mais investimentos estrangeiros. Não queremos concentrar os investimentos na capital, mas alargar para o interior do país e aumentar a produção interna, para a exportação”, disse o Presidente João Lourenço.
Apoio garantido
A TICAD 7 foi aberta ontem pelo Primeiro-Ministro do Japão, Shinzo Abe, que falou, num discurso curto e incisivo, dos desafios de intercâmbio com o continente africano.
O chefe do Governo japonês, na sua intervenção, garantiu aumentar e promover o investimento em África.
Shinzo Abe assinalou o financiamento feito em Angola no domínio das telecomunicações, destacando a aquisição de equipamentos e serviços para a instalação do cabo de fibra óptica que permitiu unir o país, por via de um “hub”, ao continente americano, através do Oceano Atlântico.
O presidente da União Africana, Abdel Fatah al Sisi, dirigiu os trabalhos da cerimónia de abertura que contou também com a intervenção do Secretário- Geral das Nações Unidas, António Guterres.
A TICAD 7, que termina amanhã, está a centrar as suas discussões na promoção do investimento privado, no desenvolvimento dos recursos humanos, treinamento vocacional e no crescimento de pequenas e médias empresas.
Esta edição da TICAD vai fornecer aos países africanos uma excelente plataforma para firmar parcerias potenciais com empresas e investidores japoneses.
Transformação económica
O centro das discussões, que vão culminar com a assinatura de uma declaração conjunta amanhã, passa pela defesa da necessidade de acelerar a transformação económica e melhorar o ambiente de negócios através da inovação e o engajamento do sector privado.
As áreas-chave definidas por representantes da TICAD incluem a diversificação da economia e industrialização, transparência no endividamento público e a sustentabilidade da dívida pública, a qualidade das infra-estruturas e o investimento na agricultura e na “economiaazul”.
A conferência reflecte ainda sobre a necessidade de aprofundar uma sociedade sustentável e resiliente, focada na saúde, educação, ambiente e na redução de riscos de desastres naturais.
Os países africanos e o Governo do Japão pretendem fortalecer a paz e a estabilidade, incluindo assuntos sobre a edificação de instituições fortes e boa governação e apoio aos refugiados e deslocados do continente.
Entre 2008 e 2018, o Japão apoiou com 120 milhões de dólares nos programas das Nações Unidas de paz e segurança.
Cerca de 4.500 participanes marcam presença em Yokohama, na TICAD, que representa um fórum inclusivo e aberto de Chefes de Estado africanos, organizações internacionais, países parceiros e doadores, sector privado e representantes da sociedade civil.
A TICAD é a maior conferência internacional promovida pelo Governo do Japão.
Plenária sobre “Diálogo de negócios público-privados”
Pela primeira vez em 25 anos de TICAD, representantes do sector privado do Japão e de África vão participar, hoje, numa sessão plenária denominada “Diálogo de negócios público-privados”.
Cerca de 3.000 participantes estão inscritos, incluindo empresários angolanos.
Está prevista também a realização do “Fórum de negócios e expo”, onde 158 empresas japonesas, que operam ou estão interessadas em operar em África, vão expor os seus produtos e tecnologias.
Em 2017, o Japão exportou bens no valor de 7.5 mil milhões de dólares para África e importou do continente 8.3 mil milhões de dólares. Os dois grandes sectores para o investimento japonês em África são minas e hidrocarbonetos.
As exportações mais importantes do Japão para África nas últimas décadas têm sido veículos a motor.
O Japão tem sido o maior financiador asiático de projectos nos últimos cinco anos, segundo dados da TICAD, publicados na abertura da conferência. O número de empresas japonesas a operar no continente africano aumentou de 520, em 2010, para 796, em 2017.
Fonte: Jornal de Angola, 29 de Agosto de 2019